sábado, 4 de abril de 2009

Egotrip

"Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num só, esse é o eterno."

~ Caio Fernando Abreu, "O Rapaz Mais Triste do Mundo".


Desferir golpes e sentenças e palavras. E a Lua das cinco da manhã continua intacta, rindo da minha existência temporal. Não há tempo para o que se quer, embora o que quisesse antes seja o que tenho agora. Mas é sempre assim, quando tenho o que queria não o quero mais, quero outra coisa. Talvez tenha sempre sido a busca pela outra coisa. E com tanto a se fazer, por vezes, não faço nada. Gosto deste entorpecimento, da vaidade eloqüente quando se trai a si mesmo. Tempo só guardo para Renato e Caio, atualmente dois imprescindíveis, senão essenciais. Aquele me acompanha por horas a fio, com os versos de sempre, tão meus. Como alguém pode entender tanto outra pessoa? Vá entender. Ele me entende. E Caio é como um tapa na cara, um acorda-pra-vida pra tudo o que existe em mim. Há tanto a se mostrar, a se dar a conhecer. Quem sabe? Quem sabe o que se deve dar a conhecer? A quem? Quem pode dizer? Nessas horas, eu gosto de vagar pela casa vazia, passando as unhas pelas paredes, como se fortalecesse as garras, e dou voltas pela mesa procurando e cristalizando aquele pensamento maior do que quer que se seja, aquela fuga do tudo da vida. Eu amo a beleza e admito meus requintes de frivolidade. Tão frívolo amar quem quer que seja pela imagem sem palavras. Tão tolo quando se há apenas sorrisos prostrados, e não tentativas. Eu não tento. Eu nunca tento. Eu sempre conheço de antemão todos os meus fracassos. E muito bem vejo o que se passa nos olhos velados, no andar disfarçado da persona invisível. Eu sempre soube, dears. E quando do desamar do amor não realizado, me acomete esse cansaço de quem conta as horas, essa coisa meio Goethe de sair por aí morrendo pelos cantos. Que frívolo. Que glorioso. Talvez eu procure refúgio no inimigo, mas serei eu capaz de identificá-lo? A vontade é de sair por um circo, com balão amarrado no dedinho, procurando a mamãe de quem me perdi no intervalo. Haja saco pra existir por duas décadas. Se eu pudesse, bebia e fumava. Mas não posso. Não quero porque talvez, se décadas futuras vierem, posso precisar da minha “saúde”. Sou careta, então vomito palavras. É que é sábado e eu estou sozinho. Talvez não espacialmente, mas isto não é o que importa. Eu poderia estar na Times Square e estar sozinho, se é que me entende. Mas ninguém me entende, e isto é só constatação, antes que digam por aí que lamento os meus sábados solitários. Eu não lamento nada a ninguém. Com minha rena de pelúcia, eu me arranjo. E isto é tudo. Não, não é, porque meus dedos não se cansaram e eu estou aqui, com tanta coisa pra fazer, olhando os minutos passarem no relógio feito um idiota. Às vezes eu sou tão covarde pra começar a fazer as coisas. E o engraçado é que isto nunca me ocorreu, até eu registrar na frase anterior. Milagres do subconsciente no ato de escrever. Amanhã, eu quero o mundo. E para isso, há muito a se fazer. Sim, há tanto a se fazer e eu preciso ir, eu preciso beber água e lavar as mãos e o rosto, trocar Por Enquanto por Dancing Queen e respirar no ritmo dos mortais para conseguir alguma coisa. Alguma coisa. Ó céus, como eu ando insuportável!

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