terça-feira, 21 de abril de 2009

Porque Eu Entendo Werther

"Oh! Essa gente razoável! Paixão! Embriaguez! Loucura! E vocês se conservam tão calmos, tão indiferentes, vocês, os homens de moral! Esmurram o bêbado, repelem o louco, cheios de asco, e passam adiante, como o sacrificador, agradecendo a Deus, como o fariseu, por não haver feito vocês iguais a um desses desgraçados!... Tenho-me embriagado mais de uma vez, as minhas paixões roçaram sempre pela loucura, e disso não me arrependo, porque só assim cheguei a compreender, numa certa medida, a razão por que, em todos os tempos, sempre foram tratados como ébrios e como loucos os homens extraordinários que realizaram grandes coisas, as coisas que pareciam impossíveis... Mas, ainda na vida ordinária, nada mais intolerável do que a todo momento ouvir gritar, sempre que um homem pratica uma ação intrépida, nobre e imprevista: 'Esse homem está bêbado! É um louco!...' Que vergonha, ó todos vocês que vivem em jejum! Que vergonha, ó homens sensatos!"

Goethe, "Os Sofrimentos do Jovem Werther"

Será que me arrependo de tanta demência deliberada? Eu não sei, porque não consigo percrustar aquela antiga área de consciência, antes tão solícita aos enigmas da alma. Talvez me agrade mais esta mascarada que me permite rir de mim mesmo e ordenar-me, ridi pagliacci. Como as noites de quintas-feiras carregam o ar decadente nessas cidadezinhas litorâneas! O ar tão decadente a quem se prostrar a dar às caras em suas ruas, porque todo mundo que vive em cidadezinhas litorâneas tem, em toda e qualquer esquina, alguma memória para lembrar. Elas estão sempre lá, esperando o passo as alcançar para viverem novamente, mesmo na solidão da mente do único que a experimentou. Eu não lembrei nada porque estava imune e sou sempre forte enquanto acreditar que sou. Mas que poderia fazer quando tu, feito espectro, materializa-se perante meus olhos? Ao longe, não me vês. Eu vejo e eu lembro. E quem irá entender o que significa a uma alma maculada, lembrar? Que magnânima vontade de infligir aos perversores do espírito a mesma sina que nos condenam, nós que começamos com uma alma tão bonita! É tarde para tudo, menos para o vôo dos morcegos, para os passos frementes do andarilho. Tarde até para o perdão, que nunca poderia ser leviano ou de meio coração. Eu sei onde todos estão, nos quartos, nas janelas, não pensando em mim, como eu não deveria pensar neles. Que hei de fazer se vivi a noite de quinta-feira numa cidadezinha litorânea? Parece ter prolongado seu espírito, porque chove lá fora e eu ainda sinto tudo porque sou um expressionista. Este silêncio intolerável torna o brotar das lágrimas tão mais fácil, tão essencialmente fácil. Ridi Pagliacci, tal como Donald O' Connor. Mas eu não vivo em Technicolor. Voltemos a Werther.

domingo, 19 de abril de 2009

O primeiro "Hitchcock Picture" por excelência

"O seu filme é tão ruim que nós iremos apenas colocá-lo na estante e esquecer a respeito", dizia um produtor britânico em 1926 ao jovem diretor Alfred Hitchcock. Algumas cenas refeitas e, então, o "filme ruim" é lançado aos cinemas londrinos com grande fanfarra e louvação.

The Lodger: A Story Of The London Fog (O Inquilino ou O Pensionista em português) foi considerado pelo diretor como o primeiro "Hitchcock Picture" de verdade. "The Lodger foi o primeiro filme em que tirei proveito do que havia aprendido na Alemanha. Nesse filme, todo o meu enfoque foi de fato instintivo, foi a primeira vez que exerci meu próprio estilo. Na verdade, pode-se considerar que The Lodger é meu primeiro filme," disse Hitchcock a Truffaut.

De fato, Lodger distancia-se do estreante de Pleasure Garden e aproxima-se do gênio de Os 39 Degraus. O filme começa com um assassinato, à noite, de uma mocinha loira. Letreiros em neon anunciam um show de coristas - "Tonight: Golden Curls" e pela primeira vez assistimos a um tema recorrente da filmografia de Hitchcock, o que Donald Spoto caracterizou como atração psicológica na associação entre sexo e assassinato, êxtase e morte.

Além do próprio assassinato, Hitchcock preocupa-se em explorar a paranóia instalada pela sensacionalização do crime, com o uso de fusões de primeiros planos dos rostos chocados dos cidadãos. Algumas mocinhas chegam a esconder os cabelos loiros nos chapéus, disfarçando-os com o uso de cachinhos negros para não caírem vítimas do temido assassino! Após esta sequência, somos transportados a uma casa de pensão onde vivem um casal e sua filha Daisy, quando um homem estranho chega até a calma residência. Hitchcock o filma na porta, com a boca entrecoberta por um xale, ao fundo da neblina londrina; em seguida, outro plano acentua o tratamento sinistro dado a este personagem, quando ele é filmado de costas, grande e sombrio, comparado à docilidade da Sra. Bouting. O plano-detalhe assume timidamente o aspecto fundamental que terá na obra futura do diretor, quando Jonathan, o pensionista, demonstra preocupação com sua maleta. Estabelecida a convicção do espectador de Jonathan, em suas excentricidades (ele pede também que todos os quadros com fotos de moças loiras, que estavam em seu quarto, sejam retirados), ser o assassino procurado, curiosa se torna a cena em que ele, sentado à mesa, põe-se tranquilamente a ler o jornal, como se Hitchcock anteviesse o mesmo momento no grande A Sombra de Uma Dúvida, de 1943.

O assassino só ataca nas noites de terça-feira e, coincidentemente, nesta noite o pensionista resolve sair para um passeio. A Sra. Bouting, no entanto, acorda e o vê deixar a pensão. Hitchcock usa aqui das técnicas que afirma ter aprendido com os alemães, no uso do plongée no plano de Jonathan fechando a porta, e nas sombras da janela refletidas na parede do quarto da Sra. Bouting. Logo que o pensionista sai, outra jovem loira é atacada, rapidamente, como sugere a montagem que explora o susto da moça e das pessoas nos arredores. O assassino é exibido de costas, em passos rápidos, perdendo-se na escuridão das ruas. No dia seguinte, os Bouting descobrem sobre o novo ataque e perguntam-se se Jonathan não seria o responsável. Eles fazem tal questionamento e olham para o lustre da sala, um elemento sempre indicativo da presença suspeita e misteriosa de Jonathan no filme. Outro prenúncio do trabalho futuro de Hitchcock acontece na cena em que Jonathan tenta abrir a porta trancada do banheiro enquanto Daisy está na banheira. Inspiração para Psicose?

Quando a polícia, a investigar o caso, chega até a pensão dos Bouting, o quarto de Jonathan é revistado e sua preciosa maleta é aberta. Encontram um revólver e uma série de artigos relacionados aos assassinatos das jovens loiras. Jonathan vai ser levado preso, mas consegue fugir, algemado, e combina com Daisy de se encontrarem perto de um poste de luz. Lá, com o recurso do flashback, ele nos conta que sua irmã foi morta pelo misterioso assassino de loiras. Sua mãe então caiu enferma e faleceu, e ele lhe prometeu não descansar enquanto não encontrasse o assassino. Eles passam em um bar, cena utilizada por Hitchcock para caracterizar a estranheza na situação da moça dando-lhe de beber (Jonathan estava algemado), fazendo assim as pessoas no local indicarem-no como o procurado assassino quando a polícia chega procurando informações.

No drama desta sequência, Jonathan e Daisy são perseguidos por uma multidão enquanto, paralelamente, ainda no bar, um policial recebe uma ligação que revela a prisão do verdadeiro assassino. Preso em uma grade pelas suas algemas, Jonathan é atacado por uma multidão enfurecida até a chegada dos policiais. A salvo, somos convidados a presenciar o "happy ending" que o star system não poderia negar. Hitchcock, inicialmente, queria que Ivor Novello, ator que interpreta Jonathan, sumisse ao fim do filme deixando sua inocência ou culpa sem explicações. Mas Novello, grande astro, não podia ser considerado vilão por conta dos publicitários, e o final do filme teve de ser alterado. O que chegou às telas foi a cena de Jonathan e Daisy, felizes e casados em sua nova casa, recebendo os pais da moça para uma visita. Hitchcock estrutura bem a dinâmica dos pais de Daisy, personagens de caráter simples (há seu característico humor quando a Sra. Bouting dá a Jonathan sua escova de dente esquecida na pensão), com o casal. Embaraçados pelos carinhos dos noivos, eles o deixam a sós. No plano final, Jonathan e Daisy se entregam em um grande beijo em frente à janela. Ao fundo, vemos a placa em neon, piscando, anunciando "Tonight: Golden Curls". O mistério resolvido e a vida que prossegue.

Lodger tornou Hitchcock uma espécie de celebridade instantânea na Londres dos anos 20, no que consideraram ser o primeiro filme em que o nome do diretor foi mais aclamado do que o de suas estrelas. Enquanto obra cinematográfica, seja na temática de grande parte dos seus filmes - o homem inocente perseguido injustamente -, no sinistro das imagens sombrias, na fuga ao humor, sua dinâmica confirma as palavras do diretor: trata-se essencialmente da primeira obra hitchcockiana por excelência. Hitchcock beneficia-se do momento do cinema mudo para fazer o que melhor sabe: contar imageticamente, como no futuro o faria suprimindo diálogos, aqui o faz na redução dos intertítulos, como o fez Murnau – que declaradamente o influenciou –, àquela época, em A Última Gargalhada.

domingo, 12 de abril de 2009

O Passeio

"Até pensei que era mais
Por não saber que ainda sou capaz
De acreditar
Me sinto tão só
E dizem que a solidão até que me cai bem

Às vezes faço planos
Às vezes quero ir
Pra algum país distante
Voltar a ser feliz..."

Legião Urbana, "Maurício"

Ontem de noite eu andava e ouvi os meus passos. Então percebi que eu era eu e somente eu e que também estava sozinho. Era tarde e eu não sabia o que se faz quando se descobre que se está sozinho, então parei, olhei para os lados e me escondi perto de uma árvore numa dessas rua desertas, porque pior que estar sozinho é deixar que os outros saibam disto. Eles sempre sabem e eu escondo o horror de tudo isso, eu uso luvas, eu uso capa, chapéu, eu me transmuto no Homem Invisível para que deixem em paz minha solidão secreta que não é secreta e, enfim, o tempo passa. Outro dia vi umas crianças na saída do colégio, correndo para a banca de jornais para comprar as novas figurinhas, com as moedinhas do lanche que esconderam pela semana. E eu sabia disso e sorri pra mim mesmo, não esbocei sorriso porque não esboço sorriso pelas ruas, seja lá porquê motivo, mas sorri por dentro em simpatia, apesar de nem as figurinhas, nem as revistinhas, nem os papos, nem o jogo de bafo, nem os desenhos e nem as músicas sejam as mesmas dos meus tempos de guardar moedas para comprar figurinhas. E então, não tenho universo. Estou escondido atrás da árvore da rua que não sei o nome, deserta e a noite, diferente do meu espírito, é quente, e eu estalo os dedos pro tempo passar, porque tenho medo de voltar pra onde quer que seja e de ir pra qualquer outro lugar. Eu estalo os dedos e as imagens aparecem, porque é sempre assim, uma coisa leva a outra, uma imagem que leva a um pensamento que leva a uma lembrança que não se quer lembrar ou à lembrança forjada que tanto se quis e nunca existiu. E eu, de capa e chapéu, levanto e de repente fica tudo tão bonito e eu quero correr pra ti e te abraçar como nunca antes, dizer que te amo e que nunca quero ficar longe de ti, mas é tudo mentira e eu sinto o êxtase no nada, no pó da rua deserta onde estou perto da árvore, sozinho. Eu olho as janelas dos apartamentos ao redor e todos estão ocupados com suas pizzas de fim de semana, seus filmes de fim de noite, suas contas que vão vencer. E eu grito: Vocês amam? Mas são covardes e não me respondem, não se dão conta, querem amar sua imagem de amor ao invés de amar o ato de amar. Eu cansado estou de não ser o que querem que eu seja. Eu não sei se sou o que quero ser e nem o que quero ser. Eu só queria uma fotografia de alguém que já me foi importante, que ela caísse do céu como uma milagre daquele que nunca se manifesta, queria guardá-la no meu casaco e deitar junto da árvore onde me escondi até que a vida de mim expirasse, mas eu não posso porque eu ainda estalo os dedos. Talvez eu ainda transe essa loucura.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Estréia de Um Gênio

No ano de The Big Parade, O Encouraçado Potemkin de Eisenstein e Em Busca do Ouro de Chaplin, o primeiríssimo longa-metragem de Alfred Hitchcock é realizado (embora não exibido até 1927).

O Jardim da Alegria (1925) conta uma história sem grandes pretensões. Patsy Brand (Virginia Valli) é uma corista no music hall 'Pleasure Garden'. A moça casa-se com Levett, senhor de negócios que vai enriquecer nas colônias inglesas dos Trópicos. Antes de partir para sua lua de mel, Patsy conhece Jill, namorada de Hugh, amigo de seu marido, e graças à sua ajuda, Jill começa a trabalhar no teatro. Levett e Hugh partem para as colônias britânicas e Patsy segue a rotina de sua vida londrina, mas Jill facilmente esquece o namorado e entrega-se aos homens e ao luxo. Patsy vai para os Trópicos ao descobrir que seu marido está doente, mas o encontra alcoólatra, vivendo com uma nativa. Ela o abandona e o marido assassina a nativa, enlouquecendo, e tentando matar a própria esposa.

O melodrama sobre infidelidade prenuncia algumas das características mais marcantes da obra do Mestre do Suspense. O erotismo, sutil, aparece já neste primeiro trabalho. Em uma cena em que as duas chorus girls trocam de roupa, a câmera exibe, imóvel, as peças sendo jogadas, acumulando-se dentro do plano, estimulando o espectador a especular sobre a nudez das garotas, ponto central da cena. A obsessão pelas loiras é introduzida timidamente - a saber, as duas atrizes do filme são morenas. Mas na cena inicial, em um show do music hall, todas as coristas dançam com perucas loiras, de pernas à mostra, devidamente valorizadas pelos closes do diretor. O voyeurismo sacramentado em Janela Indiscreta se apresenta na figura de um senhor na primeira fileira do music hall, que usa de seus binóculos para enxergar, em fullscreen, as pernas dançantes das jovens coristas. Uma síntese de importantes aspectos do diretor apresentados logo em sua primeira sequência cinematográfica!

O primeiro plano do filme recebeu certas interpretações expressionistas. O Jardim da Alegria foi filmado na Itália e na Alemanha, um ano após Hitchcock ter tido sua experiência nos estúdios da UFA, trabalhando em um filme ainda não como diretor. Naquele ano, Hitchcock travou contato e assistiu o clássico de Murnau, A Última Gargalhada, ser filmado. No primeiro plano de O Jardim da Alegria, as dançarinas são mostradas, em plano geral, descendo uma escada em espiral. Sendo este um elemento extensamente explorado no cinema expressionista alemão, realizado àquela época, supõe-se ter sido a inspiração de Hitchcock para seu primeiro plano cinematográfico. Não à toa, o expressionismo influenciará boa parte de sua obra, assim como o cinema americano em geral nas próximas décadas.

O humor de Alfred Hitchcock, sempre presente como alívio ao suspense, nasce na figura do cachorro Cuddles, que interrompe as orações de uma das moças lambendo-lhe os pés e, ao longo do filme, contrasta com o crescendo do drama. Quando lançado, a crítica louvou o diretor, ironicamente, pela qualidade "americana" do filme. Trata-se de uma época em que o cinema britânico, decadente, era considerado como inferior frente às conquistas técnicas americanas desde a ascensão de D. W. Griffith. Mas Hitchcock ainda teria pouco mais de dez anos para nos legar seus grandes clássicos britânicos, Os 39 Degraus e A Dama Oculta, até ele também se render à maquina de sonhos dos grandes estúdios de Hollywood e, então, cristalizar-se como um gênio maior da sétima arte.

sábado, 4 de abril de 2009

Egotrip

"Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num só, esse é o eterno."

~ Caio Fernando Abreu, "O Rapaz Mais Triste do Mundo".


Desferir golpes e sentenças e palavras. E a Lua das cinco da manhã continua intacta, rindo da minha existência temporal. Não há tempo para o que se quer, embora o que quisesse antes seja o que tenho agora. Mas é sempre assim, quando tenho o que queria não o quero mais, quero outra coisa. Talvez tenha sempre sido a busca pela outra coisa. E com tanto a se fazer, por vezes, não faço nada. Gosto deste entorpecimento, da vaidade eloqüente quando se trai a si mesmo. Tempo só guardo para Renato e Caio, atualmente dois imprescindíveis, senão essenciais. Aquele me acompanha por horas a fio, com os versos de sempre, tão meus. Como alguém pode entender tanto outra pessoa? Vá entender. Ele me entende. E Caio é como um tapa na cara, um acorda-pra-vida pra tudo o que existe em mim. Há tanto a se mostrar, a se dar a conhecer. Quem sabe? Quem sabe o que se deve dar a conhecer? A quem? Quem pode dizer? Nessas horas, eu gosto de vagar pela casa vazia, passando as unhas pelas paredes, como se fortalecesse as garras, e dou voltas pela mesa procurando e cristalizando aquele pensamento maior do que quer que se seja, aquela fuga do tudo da vida. Eu amo a beleza e admito meus requintes de frivolidade. Tão frívolo amar quem quer que seja pela imagem sem palavras. Tão tolo quando se há apenas sorrisos prostrados, e não tentativas. Eu não tento. Eu nunca tento. Eu sempre conheço de antemão todos os meus fracassos. E muito bem vejo o que se passa nos olhos velados, no andar disfarçado da persona invisível. Eu sempre soube, dears. E quando do desamar do amor não realizado, me acomete esse cansaço de quem conta as horas, essa coisa meio Goethe de sair por aí morrendo pelos cantos. Que frívolo. Que glorioso. Talvez eu procure refúgio no inimigo, mas serei eu capaz de identificá-lo? A vontade é de sair por um circo, com balão amarrado no dedinho, procurando a mamãe de quem me perdi no intervalo. Haja saco pra existir por duas décadas. Se eu pudesse, bebia e fumava. Mas não posso. Não quero porque talvez, se décadas futuras vierem, posso precisar da minha “saúde”. Sou careta, então vomito palavras. É que é sábado e eu estou sozinho. Talvez não espacialmente, mas isto não é o que importa. Eu poderia estar na Times Square e estar sozinho, se é que me entende. Mas ninguém me entende, e isto é só constatação, antes que digam por aí que lamento os meus sábados solitários. Eu não lamento nada a ninguém. Com minha rena de pelúcia, eu me arranjo. E isto é tudo. Não, não é, porque meus dedos não se cansaram e eu estou aqui, com tanta coisa pra fazer, olhando os minutos passarem no relógio feito um idiota. Às vezes eu sou tão covarde pra começar a fazer as coisas. E o engraçado é que isto nunca me ocorreu, até eu registrar na frase anterior. Milagres do subconsciente no ato de escrever. Amanhã, eu quero o mundo. E para isso, há muito a se fazer. Sim, há tanto a se fazer e eu preciso ir, eu preciso beber água e lavar as mãos e o rosto, trocar Por Enquanto por Dancing Queen e respirar no ritmo dos mortais para conseguir alguma coisa. Alguma coisa. Ó céus, como eu ando insuportável!