segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Incluam-no Fora: A Vida de Farley Granger..?

Contrariando críticas negativas de consumidores da Amazon.com, adquiri a autobiografia de Farley Granger, "Include Me Out: My Life From Goldwyn To Broadway", lançada em 2007.

Minha espécie de fascinação-identificação com a on-screen persona de Farley Granger começou quando assisti ao hitchcockiano Festim Diabólico. Anos depois, tive a oportunidade de assistir o ator em seus maiores filmes, Pacto Sinistro, também de Hitchcock, Amarga Esperança, de Nicholas Ray, e Senso de Luchino Visconti. 

Mas em nada sua autobiografia relembra o neurótico Philip ou o canalha Franz. Farley Granger não é Philip nem Franz. Ele é um garoto que, depois de atuar em uma peça de teatro em Hollywood, é abordado por um caça-talentos do Sr. Sam Goldwyn, que acabou contratando-no por 7 anos com um salário de 100 dólares por semana.

Começa o "sonho americano" de Farley Granger, que irá estrelar em The North Star e The Purple Heart. Depois, voltando da Segunda Guerra, sua carreira cinematográfica deslanchará com Amarga Esperança de Nick Ray, filme que Hitchcock assistiu e que lhe rendeu o papel em Festim Diabólico.

Quem espera encontrar histórias sobre os bastidores, preparação e relação dos atores com Alfred Hitchcock, esqueça. Farley Granger gasta míseras 9 páginas das 244 do livro para contar sobre os momentos hollywoodianos mais importantes de sua carreira. Afinal, não fosse pelo público espectador destes filmes, Granger nem motivos (e nem contrato) teria para a publicação de uma autobiografia. 

Ele compensa em Senso ao descrever bem sua estadia na Itália, a relação da equipe com Luchino Visconti, seus jantares e intrigas. Poderíamos dizer que boa parte de Include Me Out é destinada a relatar sua longa amizade com a atriz Shelley Winters e aos jantares os quais já participou. Provavelmente nenhuma refeição de sua vida é esquecida. Todas são extensamente relatadas e comentadas ad nauseum. A vida de Farley parece, aliás, um endless banquete à là A Comilança.

Alguns pontos de sua história não são inteiramente esclarecidos. Os pais bebiam e brigavam. Farley sai de casa aos 20 e poucos anos e nunca mais os mesmos são mencionados. E enquanto ele não mantém segredos de sua bissexualidade, relatando, aliás, a noite em que perdeu a virgindade duas vezes, sua relação com Robert Calhoun, o co-autor do livro, nunca é explicada. Enquanto supõe-se que os dois são amantes, e a leitura prova isto obviamente, nada é explicitado. Curiosamente, a única e última notícia que li a respeito de Farley Granger no IMDB foi sobre a morte de Calhoun, em maio passado.

Destaque para o desfile de lendas cinematográficas nas páginas da vida de Farley. Ele é convidado frequente das tardes de jogos na casa de Gene Kelly, joga tênis na mansão de Charlie Chaplin, toma drinques com Bette Davis, Humphrey Bogart, Tyrone Power, namora Ava Gardner e é vizinho de Donald O' Connor e Paulette Goddard. Tudo na maior naturalidade. 

O grande grito de Farley no livro, apropriadamente intitulado Include Me Out (uma das frases famosas de Goldywn), é de que ele não precisou do studio system para vencer sua ambição de ser ator. Ou seja, Farley Granger não queria ser "star". E certamente, fosse essa sua ambição, sua carreira estaria condenada. Granger, enquanto contratado da MGM, só fez grandes filmes emprestado a outros estúdios, como a RKO e a Universal. Seu grande sonho era ser ator de teatro. O que fazer? Farley compra os anos restantes de seu contrato e, falido, se muda para Nova York. Após sua saída das telonas, ele trabalhará frequentemente em peças ao vivo na TV, quando a mesma era uma novidade, e peças de teatro. Parece ser um cara realizado.

Mas Include Me Out tem em seu título uma ironia. A de "incluir fora" Farley Granger da lista das autobiografias humanizadas e honestas. Se Farley Granger for o homem de Include Me Out, ele terá sido apenas um homem comum sem grandes preocupações sobre a vida e sobre sua própria arte. Terá sido apenas um homem que fez grandes trabalhos e que adorava uma birita com seus companheiros famosos. Mas eu, ao menos, prefiro acreditar que a superficialidade esteja restrita às 244 páginas de sua autobiografia maçante. Prefiro acreditar que a vida do homem que trabalhou com Hitch e Visconti tenha sido um pouco mais interessante e reflexiva, embora este aspecto, ao contrário de suas experiências gastronômicas, não tenha sido tema de uma página sequer de sua publicação.

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